Já bem experiente nesse negócio de consertar carros, uma atividade que me é muito prazeirosa, fiquei pensando em como fazer mecânica vestido com uma roupa branca.
Muitas coisas me vieram à mente, lembranças umas cotidianas e outras históricas. Me lembrei muito de que existem coisas que apenas existem por si e outras que são como apenas fins para justficar meios.
Hoje eu vejo meus fabricantes de carros preferidos à bancarrota, ou quase, e seus oponentes, ainda que não nadem em águas calmas, melhores.
Me lembro de ensinamentos históricos que versavam sobre a necessidade de se iludir ou fazer o oponente crer em algo falso, para que se possa obter assim a tão almejada vitória. De como é importante dissimular os movimentos, para que se pense o oposto do que realmente se faz. Se quero atacar, faço parecer que estou fraco e incapacitado de fazê-lo; se estou fraco e débil, nunca posso deixar isso transparecer, mas sempre o oposto, que estou pronto e apto ao combate.
Me lembro de que uma mentira repetida à exaustão, para quase todos, acaba virando verdade.
Vejo um fabricante viver propalando sua capacidade de fazer híbridos, que por decreto são a única opção para que um veiculo seja táxi na maior cidade do mundo, mas na verdade o mesmo fabricante que fabrica essa situação lucra e se locupleta fazendo picapes enormes. E ainda ousa desafiar outras como sendo maior e até mesmo mais veloz que uma oponente, como se um único item, aceleração específica até uma determinada velocidade, fosse mais importante que o peso de uma marca tradicional e legítima que faz veiculos amados por seus compradores, e que na falta deles, se recusam a outros?
Então me ogulho de ver meus herois em apuros, feridos e quase à morte, por insistirem em fazer seu real papel, e por não se renderem ao politicamente correto e hipócrita.
Então vi com muita clareza que não é possível se agir desta forma. Um torquímetro é necessário e suficiente para se apertar parafusos diversos que tenham um limite de trabalho apertado o suficiente para estarem em segurança, tanto para não afrouxarem quanto para não quebrarem. Parafusos de roda, por mais que sejam um parafuso como qualquer outro e sujeito evidentemente as mesmas leis físicas, não estão em um patamar tão crítico assim. O torquímetro é a ferramenta essencial e necessária em uma bancada para montarmos motores.
Do mesmo jeito que a roupa branca é a indumentária de um médico, onde a limpeza extrema é a condição inerente à manutenção da saúde do paciente. Nunca pode ser pertinente a alguém que se dedique cegamente a reparar uma máquina que tem coisas que vão irremediavelmente macular a tal vestimenta branca de faz de conta. Depois do macacão branco, o que teriamos, luvinhas brancas cravejadas de pedras como as do Michael Jackson?
Poderia continuar, mas acho que é suficiente.
Aqui me lembro do clássico do cinema nacional, Eles não usam black tie. Eu não uso roupa branca.
AG