autor do post: Arnaldo Keller
Por coincidência fiquei uma semana com cada modelo de Sandero, um normal e, na semana seguinte, um "aventureiro", o Stepway. Ambos são muito bons para o propósito que foram feitos, com a clara vantagem do normal sobre o Stepway no quesito estabilidade, tanto direcional quanto em curvas.
O Stepway, que tendo 4 cm a mais de altura -- altura essa conseguida com a elevação da suspensão -- é suficientemente estável para que rodemos com tranquilidade. O Stepway é bem mais estável que o Crossfox e também mais estável que o Ecosport e a Palio Adventure, seus concorrentes diretos, porém, fica longe do Sandero normal.
O Sandero normal enfrenta muito bem a buraqueira paulistana e viaja que é uma beleza, sempre estável e confiável, mesmo quando exigido ao limite de velocidade e aderência (estava com ótimos pneus Goodyear GPS 3).
Já o Stepway tem a suspensão mais firme e áspera na buraqueira, apesar de continuar a portar-se muito bem, porém, quando partimos com ele para a estrada já não temos a mesma tranquilidade que ao volante do normal. Ele é mais arisco nas retas e nas curvas temos mais dificuldade para fazermos bons traçados com ele, traçados mais limpos e redondinhos, daqueles que a gente gosta. Isso se deve à consequente mudança na geometria de suspensão, que, ao ser elevada, perde as boas características do projeto.
Tal como o Bob Sharp bem exemplificou em sua reportagem do Polo Bluemotion, que, este sim, sendo mais baixo que o Polo normal está com a suspensão na correta altura para a qual foi projetada -- e com isso tem melhor estabilidade --, o Sandero normal tem a suspensão trabalhando do jeito certo e o Stepway de um jeito um pouco estranho. Ao entrarmos na curva, ele entra forte demais com a frente. A reação ao volante não é linear. No começo do esterço ele tem uma certa reação, que fica mais rápida ao esterçarmos mais, e isso incomoda.
A não ser que o interessado tenha um sítio de difícil acesso, ou que ele seja um sujeito que realmente goste ou tenha de pegar estradas ruins de terra com facões que raspam no fundo do carro, não vejo explicação lógica para que ele prefira o Stepway ao normal. Em tudo este é melhor, além do que ele já tem um bom vão livre para topar as malditas lombadas, algumas das quais podemos passar meio lascado num vlup, vlup que ele nem se toca. E outra, sendo mais alto, disso ele não escapa, tem maior área frontal, o que acarreta pior aerodinâmica. Piorando a aerodinâmica, maior o consumo.
O motor de ambos era o delicioso 1,6-litro de 4 válvulas por cilindro. Suave e valente. Bom torque desde baixa rotação e, quando atinge umas 3.500 rpm, ele estilinga que é uma alegria. E ronca gostoso o 4-cilindros, um ronco grossinho e encorpado. Anda pra burro.
O galho é sua baixa taxa de compressão para um motor dito flex. A taxa é só de 10,5:1, o que o faz consumir álcool além da conta. A taxa é boa para a gasolina, mas é baixa demais para queimar corretamente o álcool, e não há eletrônica sofisticada que compense por completo ir contra as leis da termodinâmica. Esse motor, segundo li no manual, também pode rodar com gasolina pura. Não falo da nossa, que contém 25% de álcool, mas, por exemplo, da gasolina argentina, que é isenta de álcool. Em suma, esse motor foi feito para todo o Mercosul.
Se por um lado isso é bom, pois você pode viajar com ele por toda a América do Sul e ir colocando tudo quanto é combustível que aparecer pelo caminho, exceto diesel, por outro, como já disse, ele me pareceu que se entusiasma demais quando vê álcool pela frente. Seria melhor que deixassem de tentar ganhar com economia de escala e que fizessem um motor com a taxa mais adequada para os flex e outro direcionado ao mercado externo -- cada um com diferentes taxas de compressão, sendo que se a versão flex brasileira ficasse acima dos 12:1 ele seria mais econômico e ainda mais potente. O ideal mesmo seria que fizessem também um só para o álcool, agora chamado etanol, com taxa acima de 14 ou 15:1, que esse motor certamente renderia mais de 130 cv (em vez dos 112 cv que tem) e seria certamente muito, mas muito, mais econômico.
Não é frescura, não, mas bem que eu gostaria que o volante tivesse regulagem de altura e distância para que tivesse o volante mais próximo, na posição certa de guiada, sem que minhas pernas ficassem encolhidas e meu joelho direito ficasse roçando no bordo inferior do painel. Em tempo, sou uma pessoa de proporções normais. Como prova, digo que de pé, com os braços pendendo, as pontas dos dedos ficam sete centímetros acima das rótulas, e meus antepassados há muito desceram das árvores.
De qualquer modo, gostei bastante dos Sandero, de ambas as versões. Carro honesto, confortável, espaçoso, robusto, esperto e prazeroso de dirigir. Minha mulher adorou e também preferiu o normal -- o que vai de encontro ao que muitos apregoam, que mulher gosta de carro alto.
Resumindo: quem precisa de um carro com maior vão livre, tudo bem, que sacrifique a dirigibilidade e pegue um Stepway. Quem não precisa disso, que pegue um normal, que estará mais bem servido em tudo.
O normal tem mais a cara dos entusiastas.
AK