Como o leitor pôde perceber, boa parte da equipe do
AUTOentusiastas esteve presente em Águas de Lindóia neste feriado. Este que vos escreve também deveria ter ido, mas infelizmente não pude estar presente por problemas técnicos.
Madrugada de segunda-feira, tudo pronto para a viagem de 173 km, saindo do meu recanto paradisíaco ao pé da serra de São Pedro, outra estância turística do Estado de São Paulo. Parada rápida no posto, tanque cheio, pneus calibrados, níveis de água e óleo dentro do normal. Um copão de café bem preto e um pão na chapa, é hora de queimar o chão.
Um pouco antes de Águas de São Pedro (decidi evitar a rodovia SP-191), o ponteiro do termômetro subiu muito além dos 90 graus habituais. "Alguma mangueira abriu o bico", pensei comigo mesmo. A luz de advertência não acendeu, o que me permitiu conduzir o carro bem devagar até o primeiro posto e logo abrir o capô para verificar o motivo da temperatura anormal.

As mangueiras estavam em ótimo estado, mas o vaso de expansão estava praticamente vazio. Para onde havia ido a água? Comprei uma garrafa de dois litros de água mineral e fui completando o nível aos poucos, com o motor em funcionamento. Não demorou muito e o vazamento logo apareceu: uma minúscula rachadura na carcaça da bomba d´água.
Naquele momento agradeci a Deus por ter evitado a SP-191, pois naquela rodovia a cidade mais próxima de São Pedro seria Charqueada, distante cerca de 20 km. Teria parado no meio do caminho, sem uma alma viva a quem pedir socorro e provavelmente teria de esperar umas 2 horas até que o socorro da seguradora chegasse.
Porta-malas aberto, peguei o meu "kit McGyver" e não pensei duas vezes: saquei o Durepóxi, preparei a massinha e me deitei embaixo do carro, modelando a resina com cuidado para que não pegasse na polia da bomba. Um empurrão com o canivete e em apenas 15 minutos o meu quebra-galho estava pronto, duro como uma rocha.

Até pensei em continuar a viagem, mas achei melhor não arriscar. O mais prudente seria voltar para casa, comprar uma bomba d´água nova e passar o resto do dia trocando a mesma (
pra mim, uma grande diversão). Voltei para São Pedro com o olho bem atento ao termômetro, cujo ponteiro manteve-se firme e forte nos 90 graus.
Acabei perdendo o evento em Águas de Lindóia, mas o quebra-galho funcionou tão bem que resolvi vir embora para São Bernardo do Campo com ele, protelando a troca da bomba d´água para depois do feriado (não achei nenhuma bomba d´água nova em São Pedro, apenas porcarias recondicionadas). E deu certo, o reparo de emergência suportou muito bem mais de 200 km sem problema algum.
A falta do termômetro - Ainda no caminho de volta para São Pedro me lembrei que algumas semanas antes tinha ido até uma concessionária Nissan para conhecer o último lançamento do fabricante japonês, o Livina. O carrinho me agradou muito, mas ao olhar o painel senti falta do termômetro.

Um colega tentou me convencer de que hoje o termômetro é inútil, já que nos carros atuais a luz de alerta se acende no mesmo ponto em que o antigo ponteiro saía da posição padrão. É óbvio que tal explicação não me convenceu nem um pouco e acredito que muitos compartilham da mesma opinião: trata-se apenas de uma economia porca, uma redução de custos muito cara-de-pau por parte de alguns fabricantes.
O termômetro deve sempre estar presente, trabalhando em conjunto com a luz de advertência, que não o substitui em hipótese alguma. É um instrumento extremamente útil ao motorista por permitir a decisão de se parar o carro imediatamente ou não.
Todo mundo já vivenciou alguma hipótese em que simplesmente não é conveniente (ou mesmo possível) parar o carro. Pode ser um viaduto, uma estrada sem acostamento ou mesmo um bairro ermo e perigoso, existem situações em que é melhor seguir adiante em busca de um local seguro para parar o carro. O termômetro permite que o motorista tenha essa noção de julgamento, mas a luz de advertência solitária não.

Certa vez, estava dirigindo o carro de um conhecido e o termômetro indicou um acentuado aumento na temperatura do motor. A estrada era péssima (SP-308, a "Rodovia do Açúcar"), praticamente deserta. Bastou aliviar um pouco a marcha e foi possível chegar até um posto, onde constatei que o nível de água do radiador estava muito baixo.
Foi só completar o nível e seguir viagem, sem maiores sustos. Agora imaginem se no lugar do painel existisse apenas uma luz de advertência, sem uma indicação clara da real situação da temperatura. Acho que eu até conseguiria administrar a situação, mas duvido que um motorista leigo fosse capaz de fazer o mesmo.
Outra vantagem inegável do termômetro é permitir ao motorista saber se a temperatura do líquido de arrefecimento está
baixa demais. Também já aconteceu comigo uma vez, trafegando a 120 km/h na SP-348 (Rodovia dos Bandeirantes): temperatura muito baixa, com consumo exagerado. Na mesma hora concluí que o problema estava na válvula termostática, bastou a troca do componente para que tudo voltasse ao normal.
E se fosse num carro sem termômetro? Provavelmente apenas uma luz genérica de anomalia ficaria acesa, sem me dar a real noção do que estava errado.

O termômetro foi um dos primeiros instrumentos a ser adotado nos automóveis no começo do século XX, em uma época em que os sistemas de arrefecimento ainda operavam por termo-sifão (sem bombas d´água para rachar etc.). Do popular Ford até o mais aristocrático Hispano Suiza, até a década de 20 praticamente todos tinham um Boyce Motor Meter sobre a tampa do radiador, simples ou ornamentado.
A falta de praticidade (e os constantes roubos) fizeram com que o termômetro migrasse do topo do radiador para o painel de instrumentos. Isso tornava o instrumento menos frágil e mais prático, solução adotada hodiernamente pelos fabricantes mais sérios.
Definitivamente, não pretendo comprar nenhum carro que não tenha um termômetro no painel de instrumentos. Considero uma verdadeira falta de respeito com o consumidor, por melhor que o produto possa ser, caso do Nissan Livina, Honda Fit e inúmeros outros. Nada justifica essa economia porca.