Antônio Castro Prado Neto, "Pradinho" ou "Tom Jet". Nasceu no dia 24 de julho de 1948 em Ribeirão Preto e nos deixou no dia 3 de outrubro de 1981. Tinha 33 anos. Grande amigo. E grande piloto! Pilotava totalmente à vontade, andar num carro de corrida era a coisa mais natural do mundo para ele. Divertia-se, sobretudo. Foi amizade iniciada nos autódromos, tipo um vai com a cara do outro. Nossas mulheres ficaram logo amigas.
De acordo com o blog Sscuderia Brazil, de onde a foto acima foi pinçada no Google, foi seu conterrâneo Paulo Gomes que o incentivou a correr. Nosso primeiro contato foi na I 25 Horas de Interlagos, em agosto de 1973. O Ford Maverick estava sendo lançado e o Pradinho correu num com ninguém menos que Chico Landi, que tinha então 66 anos. Chegaram em terceiro, eu de Opala com Jan Balder e José Carlos Ramos em segundo e o trio Bird e Nilson Clemente, e o gaúcho Clóvis de Moraes, em primeiro.
No ano seguinte passei a correr para equipe oficial Ford, a Mercantil Finasa-Motorcraft, chefiada pelo experiente e astuto Luiz Antônio Greco. Quando cheguei à equipe, em julho de 1974. o Pradinho já era piloto lá desde o começo da temporada, em dupla com Paulo Gomes. Eu e Marivaldo Fernandes dividiríamos o mesmo Maverick Quadrijet. Nesse ano ele e o Paulo Gomes sagraram-se Campeões Brasileiros de Turismo Divisão 1. Estávamos sempre juntos, quando eu vinha a São Paulo hospedava-me na casa dele.
Ainda segundo o blog Scuderia Brazil, Prado correu na Europa em 1975 com um March-BMW de Fórmula 2, mas atendendo o pedido de sua família, especialmente sua mãe, D. Daisy, voltou ao Brasil para ficar. E continuou no automobilismo, correndo de Fórmula Super Vê e depois Fórmula 2 sul-americana. Nessas duas categorias se destacou, vencendo incontáveis provas.Nesse tempo ele morava numa confortável casa na sua fazenda em Valinhos, que transformou em base operacional dos carros de corrida. Seu preparador era o famoso Anésio Hernandes, tão fera em motores que ele dizia, de brincadeira, que à noite o Anésio era recolhido ao porão da casa....No fim do dia todo o pessoal se refrescava na piscina.
O Pradinho era um bon vivant. Não tinha problemas financeiros e nunca precisou trabalhar para se sustentar. Um de seus carros era uma Caravan seis-cilindros a álcool com tudo o que havia de melhor em motor, suspensão, freios e rodas. O volante de direção, claro, era Moto-Lita. A Caravan era preta, a Mancha Negra
Uma vez entrou num posto para reabastecer a Mancha Negra. Tanque cheio, pegou o talão de cheques e o frentista lhe disse que não aceitavam cheques. "Não? Então tira o álcool". Foi o que o frentista fez, com uma mangueira vários baldes, o tanque era de 84 litros. Terminada a operação o Pradinho foi embora - deu a volta no quarteirão e voltou ao postol "Enche o tanque." O frentista argumetou que ele só tinha cheque, mas ouviu a resposta de que a maneira de pagar só se pergunta depois do reabastecimento.
Tanque cheio, Prado pegoui o talão de cheque de manerra que o frentista visse. "O sr. não sabe que não aceitamos cheque?", disse. "Não? Entao tira o álcool." O frentista veio então com a conversa de que abririam uma exceção e aceitou o pagamento com cheque.
"Naquele dia eu não tinha nada que fazer e ia ficar no enche-tira quantas vezes fosse preciso", contou-me às gargalhadas. Esse era o Pradinho. Acima de tudo um autoentusiasta de primeira grandeza.
No dia 3 de outubro de 1981, um sábado, eu me encontrava em Ribeirão Preto e assistia no quarto do hotel o jornal local das sete da noite, numa emissora coligada da Globo, quando foi dada a notícia de que o piloto de Ribeirão Preto Antônio Castro Prado havia morrido num acidente no autódromo de Guaporé, no Rio Grande do Sul. Parecia que eu estava tendo um pesadelo. Corri imediatamente para a casa da mãe dele - o Prado era filho único - e amigos e familiares já estavam chegando. Foi um dos momentos dos mais tristes da minha vida.
Pior foi quando tomei conhecimento das circunstâncias do acidente. O Pradinho havia feito o melhor tempo na sessão de classificação, largaria em primeiro na prova de Fórmula 2 sul-americana do dia seguitnte. Como estava sentindo vibração nas rodas dianteiras, elas foram balanceadas novamente e enquanto isso ele havia ido almoçar na churrascaria dentro do autódromo.
Após o almoço quis experimentar o carro apenas na reta para ver se a vibração havia acabado. De bermudas mesmo, colocou o capacete e saiu para pegar a pista pela rampa normal de saída. Não viu que a saída estava fechada por uma tora de eucalipto e, quase no fim da primeira, bateu na tora com a queixeira do capacete integral, esmagando a cabeça. Já morto com toda certeza, seu corpo continuou como estava, ou seja, acelerando o F-2, que entrou na pista, cruzou-a e bateu no guardrail do outro lado.
Seus mecânicos, entre eles o Anésio, ainda gritaram para avisá-lo que deveria seguir pelo box na contramão e pegar a pista pela entrada de boxes, mas ele não ouviu. Antôno de Castro Prado Neto estava morto. Um choque para toda a comunidade do automobilismo. Vê-lo no caixão foi terrível.
Antes de colocarem a tampa, coloquei num dos bolsos do paletó um maço de Marlboro cheio e um isqueiro Bic para a longa viagem dele. Por mais estranho que pareça o que fiz, há explicação. É que eu e ele tsempre corríamos com cigarro e isqueiro no macacão. Não para fumar enquanto pilotávamos, é claro, mas para poder acender um caso o carro quebrasse longe dos boxes...o que nunca aconteceu comigo e nem com ele.
Até hoje sinto falta do amigo. Tudo aconteceu há trinta anos, mas para mim parece ter sido ontem.
BS
Que jeito de morrer!
ResponderExcluirAlguns cones colocados no final do pit já seria o suficiente; uma tora de obstáculo? ninguém viu ele entrando no carro para avisar? nada de sinalização?
As vezes o destino nos prega cada peça!
Mister Fórmula Finesse
Puxa, que trágico!
ResponderExcluirQue fiquem as boas lembranças.
Esta postagem foi emocionante
ResponderExcluirNão por ele ser quem foi, nem pela forma horrível como aconteceu, mas porque perder um amigo querido, ou uma pessoa especial em nossas vidas, dói demais...como todos sabemos.
Minhas saudações,Bob!
Bob
ResponderExcluirTambém sei o que é perder um amigo de forma prematura. Nesse caso, pelo que você descreve, mais duro ainda é saber que dava para se evitar.
Que tragédia! As práticas de segurança devem sempre ser seguidas com disciplina militar.
ResponderExcluirInclusive sou totalmente contra sair na contramão dos boxes mesmo quando não tem ninguém.
Trágico mesmo, como falou o Anderson, que fiquem as boas lembranças.
ResponderExcluirLembrei de um amigo, outro falecido autoentusiasta, sempre "andou forte", morreu atropelado, andando de boa num passeio de vespa num domingo, na rua da própria casa. É F!
Aqui nop Rio aconteceu a mesma coisa em 86, vitimando o piloto Nelson Balestieri
ResponderExcluirSaudações do pessoal da Rua Piratininga!
Roberto Octavio
Emocionei-me ao ler suas palavras, Bob. É sempre dificil perder uma pessoa querida.
ResponderExcluirSeu gesto ao homenagear o amigo foi carregado de carinho, respeito e lealdade à amizade que tinham.
Respeito. Aprender com Bob Sharp algo além de coisas sobre carros e automobilismo é uma forma de me torna rum cidadão melhor.
ResponderExcluirEmocionado. Espero conseguir chegar a sua idade sendo um cavalheiro tão digno quanto o senhor.
Um forte abraço.
Lamentável. Alguém foi responsabilizado pelo ocorrido ou ficou por isso mesmo?
ResponderExcluirSe fosse meu parente eu processava...
Já havia lido a história no Best Cars e me emocionei hj novamente... É incrível como pessoas queridas morrem por motivos aparentemente bestas, por fatalidades que facilmente seriam evitadas...
ResponderExcluirMas é a vida...
bem lembrado.frank sinatra,tambem, foi para a ultima viagem com seu lucky strike,um isqueiro zippo e, uma moeda de 10 cents de dolar(quando seu filho foi sequestrado em 1965 ele nao tinha essa moeda para ligar para a policia) dai em diante nunca ia a lugar algum sem essa moeda
ResponderExcluirQue Deus o tenha.
ResponderExcluirGiovanniF.
Bob só vc q era o melhor amigo dele p mostrar como ele era, muita saudaes
ResponderExcluirJoão Cesar da Rocha Azevedo
Tbm perdemos um GRANDE piloto e amigo aki em Gyn.
ResponderExcluirLaércio Justino faleceu durante uma etapa da Stock em BSB. Saiu da pista e bateu num caminhão guincho parado ao lado da msm.
Pessoa simples e humilde, verdadeiro TARADO p/ carros fortes e aceleros.
Ou vc já viu alguém pegar um Stock-Car e ir p/ posto de combustível conversar c/ os amigos de madrugada?
Esse era o Laércio...
Bob,
ResponderExcluirTriste e emocionante história. Mas morrer fazendo o que se nasceu para fazer é um bom fim, ainda que cedo demais, neste caso.
Abraço!
MAO
Bob, com otimos textos sempre.
ResponderExcluirMister Formula Finesse, pelo que lembro de ler nas 4 Rodas (que na época era confiável) e Autoesporte de então, era uma prática mais ou menos comum fecharem a saída dos boxes com obstáculos menos fáceis de serem removidos que cones. O Bob poderá confirmar melhor.
ResponderExcluirEra uma época em que algumas coisas estranhas aconteciam. Lembro-me de ter lido um caso de um piloto de Stock Car (80, 81, 82? Não lembro o ano) cujo patrocinador ficou bravo devido à uma punição recebida, entrou no carro e foi para a pista, causando um acidente na curva 2 de Interlagos. Tempos mais românticos, mas tempos em que tínhamos um automobilismo nacional forte e os autódromos não estavam ao deus dará.
Não tinha conhecimento da carreira dele, mas recordo-me do noticiário na TV do acidente. Não sei se mais tarde apareceu o "dono da porteira" que colocou a "eficiente cancela", mas na época ninguém assumiu a responsabilidade.
ResponderExcluirJamais esquecerei esse triste episódio. Graças a Deus, a segurança hoje é infinitamente maior em todos os sentidos, do carro,da pista,dos equipamentos... O que contribui para a beleza do esporte automobilistico.
ResponderExcluirLembro dessa notícia sendo dada na hora... Fiquei chocado.
ResponderExcluirQue historia bizarra, um tronco? parece coisa dde desenho animado dos "simpsons" o piloto corre riscos na pista e no fim morre por uma burrice destas? que tristeza....
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