Em desenho automobilístico, como em qualquer outro campo, o realmente original é raro. O que se vê com frequência é a reciclagem e mistura de variadas influências e detalhes, raramente nunca vistos em outro lugar. Quando realmente aparece algo original, muitas vezes a ideia é copiada, e depois progressivamente diluída en milhares de imitações de sucesso variado.
Um exemplo fácil atual é o vestígio do famoso, onipresente e enormemente influente “Bangle butt” (a traseira com porta-malas saliente criada por Chris Bangle para a BMW) que pode ser visto na traseira das versões sedã do Celta.
Outros exemplos clássicos de influência são a grade dianteira dos Chrysler Airflow dos anos 30, imensamente popular na Europa apesar do fracasso do carro nos EUA, e o Chevrolet Corvair (acima), lançado no final de 1959 como modelo 1960.
Já falei muito sobre o Corvair e seu criador aqui no AE, mas hoje falarei apenas sobre seu desenho e influência.
Quando foi lançado, os Estados Unidos já se cansavam dos excessos dos anos 50 e, principalmente, começava a acabar com os horrendos rabos de peixe e cromados exagerados. O Corvair, como era um carro diferente em tudo, com o motor de seis cilindros contrapostos refrigerado a ar pendurado lá atrás do eixo traseiro feito um VW, foi uma oportunidade de se fazer algo diferente em estilo.
A GM era então líder absoluta em estilo,.seus estilistas eram respeitados por todos e em todos os continentes desenhistas observavam com cuidado as tendências ditadas por Detroit. O Corvair era uma olhadela em um futuro mais baixo e largo, e mais econômico em decoração. A única decoração é a bem definida linha de cintura que divide visualmente a parte de cima e a de baixo do carro, e dá a volta completa nele, do capô traseiro até à tampa do porta-malas lá na frente. Os vidros e o formato das colunas que suportam o teto também são interessantes e diferentes. O carro era certamente original.
Logo apareceram imitações. Vamos agora listar algumas.
O primeiro a listar é um velho conhecido aqui do AE, o NSU Prinz (acima e abaixo). Já falamos dele aqui e aqui. O carro, era quase uma miniatura perfeita do Corvair, com seu motor traseiro refrigerado a ar e suspensões independentes.
No Reino Unido, o grupo Rootes criava o seu primeiro minicarro com grandes investimentos, inclusive uma nova fábrica na Escócia: o Hillmann Imp (abaixo).
O Imp, que tinha na sua equipe de criação o depois famoso piloto da Ferrari, Mike Parkes (1931-1977, acidente de estrada perto de Turim), era uma festa para os entusiastas: seu pequeno (875 cm³) quatro em linha refrigerado a água desenhado pela empresa de motores de competição Coventry Climax era uma joia em suavidade e alto giro, e o comportamento dinâmico, fruto da influência de Parkes, era decididamente esportivo. Ajudava a suspensão independente nos quatro cantos. O carro era muito bem pensado, mas infelizmente enfrentou vários problemas de durabilidade em campo e acelerou o fim do império dos irmãos Rootes.
Outra cópia veio de um lugar orgulhoso por sua tradição em estilo: a Itália. O Fiat 1300/1500 de 1962, apesar de ser um carro convencional com motor dianteiro e tração traseira, ganhou aura moderna com o estilo derivado do Corvair. Dante Giacosa inclusive confessa isso em sua autobiografia, dizendo que ele e seus colegas ficaram muito impressionados com o Corvair, e o usaram como base para o 1300/1500 (abaixo).
Finalmente, um clone que veio do frio russo: o ZAZ 996 Zaphorozhets (abaixo). Também com motor traseiro, dizem ser muito parecido tecnicamente com o NSU Prinz.
Detalhes do Corvair continuaram a aparecer em muitos carros, mas não conheço outros “clones” completos além destes. Alguém lembra de outro?
MAO
IBAP Democrata, nossa versão brasileira.
ResponderExcluirRefiro-me principalmente à raríssima versão 4 portas.
ResponderExcluirMAO,
ResponderExcluir" horrendos rabos de peixe " ???????
Não concordo.
Realmente, MAO, em todos é possível presenciar nitidamente a fonte. Mas não só o original, mas também as cópias, quanto carro feio!
ResponderExcluirAbraço
Lucas crf
Tenho muita pena do pobre Corvair, primeira vítima do Sr. Nader e de seu "unsafe at any speed". O pior é que sua fama, provou-se depois, era totalmente injusta. Se respeitadas as (muitas) peculiaridades do projeto, era um carro tão seguro quanto qualquer outro da época.
ResponderExcluirDevemos dar o braço a torcer que um carro sem zonas de deformação, nem cintos de segurança, equipado com freios a tambor e apoiado em semi-eixos oscilantes na traseira só era tão seguro quanto os contemporâneos por que os outros tambem deixavam muito a desenjar nesse aspecto. Mas era bonito, aerodinâmico, confortável, relativamente rápido e barato. Ainda que fosse um kamicase, era um ótimo pacote kamicase!
Mr Nader e seus seuidores continuaram fazendo "vítimas" no mercado americano e ao redor do globo, sacrificando desempenho, visibilidade e estilo em nome de segurança passiva.
O talentoso ator e comediante americano Ernie Kovacs morreu em um acidente com uma station wagon Chevrolet Corvair na madrugada do dia 13 de janeiro de 1962 em Los Angeles. Ele voltava de uma festa, chovia e ao que parece se distraiu acendendo um charuto. Kovacs perdeu o controle numa curva, colidiu com um poste e foi atirado fora do carro. Morreu devido a ferimentos na cabeça e tórax. Isso serviu de munição para a campanha de Ralph Nader contra o Corvair.
ExcluirEssa primeira versão do Corvair não era das mais bonitas mesmo... Mas, mesmo assim, fez escola pelo mundo.
ResponderExcluirTenho que concordar com o JJ: rabos de peixe horrendos?! Existiram sim exageros, mas em geral eram bem bacanas.
O Fissore lembra bastante esse estilo, principalmente a vigia traseira fazendo as curvas laterais. Um desenho extremamente simples, mas muito elegante.
ResponderExcluirEssa é a filosofia Borg!
ResponderExcluir"resistence is futile! prepare to be assimilated!!"
E é a verdade!
Talles
Vamos lá, em tópicos:
ResponderExcluir- Prisma com "Bangle butt"? Bem que eu tinha percebido que havia algo mais de errado nele além da plataforma 4200...
- Vamos e venhamos, os primeiros Corvair não eram exatamente um exemplo de bom design e a Fiat conseguiu piorar consideravelmente a coisa...
- Quando conseguiram acertar o design do Corvair veio o pateta do Ralph Nader para ferrar com tudo; assim não dá!
- Minha modesta opinião sobre os "clones": os mais bonitos foram o NSU e o Fissore citado pelo Jesiel.
O design da parte dianteira do Simca 1000 também lembrava bastante o Corvair.
ResponderExcluirO VW Brasília....
ResponderExcluirNão pelo estilo,mas a frente é muito parecida....
Caro Paulo,
ResponderExcluirNão era a Variant "frente alta" não? Ou o Zé do Caixão? Quanto ao Fissore, ele justificava no nome da casa de design, com seu desenho italiano similares em alguns carros especiais e que custavam uma pequena fortuna, pena que Vemag não tinha dinheiro para fazer algo melhor em relação ao motor. Agora não lembro de nenhum "clone" do Corvair...
O sedan 4 portas da malfadada Indústria Brasileira de Automóveis Presidente, não soh pelas suas características, mas principalmente pelas mesmas dimensões de carroceria, eh o clone mais próximo do Corvair da primeira geração. Acho que pode ter sido uma mera adaptação, à brasileira, do mesmo. Detalhes dos traços desse polêmico e atípico carro norte americano apresentado em 59, foi o prenúncio do estilo dos Chevrolet grandes de 61,notadamente na parte superior. Tbm sempre eh bom lembrar que seu motor caia como uma luva nas KGhia dos autoentusiastas de minha época.
ResponderExcluirSobre influências do estilo do Corvair, podemos vê-la na traseira dos Opalas do modelo 1975 a 1979, em que as lanternas eram parecidas com as do Impala 1967, mas seu posicionamento no recuo do estampo traseiro lembravam a colocação adotada no Corvair de segunda geração (1964 a 1969).
ResponderExcluirAliás, falando de Opala, de certa forma podemos considerar a tampa traseira do cupê (e aqui por conseguinte a tampa traseira do Rekord C cupê/Commodore A) um certo precursor da tal "Bangle Butt", uma vez que era uma tampa que, a exemplo do recurso estilístico dos BMW da época do americano, tinha estamparia dobrada, elevava-se em relação ao ponto mais alto dos para-lamas traseiros e continuava as linhas da coluna traseira.
E já que é para ficarmos nas influências estilísticas, em que pese o Rekord C (e mais ainda o Opala) ter nitidamente se inspirado nos carros da GM americana para o estilo, no caso do cupê eles preferiram uma traseira que lembra mais a do AMC Marlin do que dos cupês da GM americana daquela época. A exemplo do Opala cupê, a coluna do AMC Marlin forma uma linha contínua e que se afunila quando chega para trás, mais um vidro traseiro reto.
O Marlin foi um fracasso, mas tinha um design interessante.
ExcluirEssa linha de cintura alta envolvendo a frente, me lembra muito aquelas BMW antigas.
ResponderExcluirA meu ver, o BMW 2002 remete bastante ao Covair em design...
ResponderExcluirLi que em algum ponto da década de 70 Ferry Porsche recebeu uma comitiva de revendedores Porsche de vários estados norte-americanos. Revendedor Porsche é o supra-sumo da arrogância no que diz respeito aos outros carros em geral e americanos em particular. Pois bem, quando do projeto do Chevrolet Corvair, a Porsche prestou uma colaboração técnica. Ao que parece, Harley Earl, o czar do design da GM, enviava sempre um novo Corvair para Ferry. Imagine a cena: um ônibus descarrega dezenas de dealers americanos em um pátio da fábrica com os olhos brilhando de antecipação. Iriam conhecer Ferry Porsche. E conheceram. O homem chegou dirigindo um Chevrolet Corvair 1969 cobre metálico...
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