Depois de tanto ver produtos de fora meramente transpostos para o Brasil, é alentador ver uma subsidiária projetar algo aqui. É o caso do Citroën Aircross, criação da engenharia da PSA Peugeot Citroën na sua unidade de manufatura em Porto Real, próximo a Resende, no Estado do Rio de Janeiro.
Como a Ford, que engenhosamente criou um utilitário esporte a partir do Fiesta, o Ecosport, a Citroën desenvolveu o Aircross tendo o C3 como base, embora a mudança tenha sido menos radical no caso do franco-brasileiro. O entre-eixos aumentou, de 2.460 para 2.540 mm, para lhe conferir um visual maior. Deu ao novo modelo o ar aventureiro tão em moda hoje, que particularmente não aprecio, mas que tem um universo amplo de seguidores. E como aventura parece ser sinônimo de estepe fixado externamente, o Aircross não foge à regra, tendo-o na traseira e deslocado para a esquerda.
O fato inegável é que o Aircross chama a atenção de maneira impressionante. Nos dias em que fiquei com ele era só comentário de admiração onde quer que eu estivesse. Seu desenho é mesmo notável, com destaque para as barras de teto que começam nas colunas dianteiras, na união com a seção dianteira. Me fez lembrar um comentário do cantor Dean Martin, que disse certa vez que as longas pernas da atriz de cinema Shirley McLaine começavam nas nádegas...
O resultado, entretanto, resultou em peso algo elevado, 1.329 kg em ordem de marcha, muito mesmo para o brilhante motor 1.587-cm³ de 113 cv a 5.800 rpm e 15,8 mkgf a 4.000. rpm, com etanol. O C3 Exclusive com mesmos motor e transeixo pesa 1.152 kg. Por conta disso a fábrica não teve outra saída senão encurtar o diferencial em nada menos que 15%, resultando em algum desconforto em velocidades de autoestrada, motor a 4.000 rpm a 120 km/h indicados. Como sempre nesses casos, toda hora levávamos a mão à alavanca para ter certeza de já estar na última marcha.
Por enquanto, só câmbio manual de cinco marchas. A fabricante diz que dentro de algum tempo, sem precisar quando, haverá opção de caixa automática de quatro marchas, como no C3. Talvez seja questão de quando houver disponibilidade de transeixo com diferencial mais curto.
Claro, o elevado consumo vem junto com o encurtamento do par final, entre outros fatores, como aerodinâmica e largura dos pneus Pirelli Scorpio – que está se tornando o "Fusca" dos pneus de carros aventureiros – de medida 205/60-16. Nas autoestradas paulistas o computador de bordo indicava consistentemente 6,5 km/l, indicação coerente com as frequentes idas aos postos para colocar mais etanol, mesmo com o conveniente tanque de 55 litros.
Mas no geral o trafegar com o Aircross resulta agradável, com bom isolamento do conjunto motriz da carroceria e também pelo vidro do para-brisa tipo acústico, feito no Brasil pela Saint-Gobain Sekurit, um dos maiores fornecedores da indústria automobilística. A calibração de molas, amortecedores e buchas é correta, mostrando que a engenharia brasileira nesse terreno encontra-se em nivel elevado.
A assistência de direção é hidráulica e não elétrica como no C3, mas não atrapalha senão contribuir para o maior consumo, ainda que marginalmente. A direção não é tão leve em manobras quanto a de assistência elétrica, mas nada que incomode. A fábrica justifica a escolha como uma questão de peso.
Por falar em elevado, o vão livre do Aircross é 230 mm, tornando-o um "papa-lombada" com todo o mérito. Não é preciso preocupação com elas senão pelo desconforto de um salto imprevisto. Mesmo bem alto (1.697 mm, mais 70 mm que o C3), ninguém encontrará dificuldade para dirigir mais alegremente e manter a segurança. Aponta bem nas curvas e nelas se mantém sem vícios ou movimentos incômodos.
O quadro de instrumentos fica em frente do motorista, em vez da localização central do C3, para muitos uma boa medida. Para mim é indiferente uma ou outra localização, reformulei meu conceito a esse respeito faz algum tempo.
A versão avaliada, a Exclusive, tinha, além do encontrado normalmente na categoria, um excelente navegador GPS com uma verdadeira "televisão" TFT de 7 polegadas no centro do painel, de fácil leitura, com iluminação automática dia/noite e 1.300 cidades brasileiras em mapas, um pioneirismo na produção brasileira. Havia também controlador de velocidade de cruzeiro e limitador de velocidade, dois controles que reputo indispensáveis nessa era de assalto ao bolso do contribuinte mediante controle eletrônico de velocidade em tudo que é lugar deste Brasil varonil.
GPS com 1.300 mapas de cidades brasileiras no Exclusive |
Um carro prático, o Aircross. O compartimento de bagagem acomoda 403 litros, ajudado pelo maior comprimento, que passou de 4.069 mm no C3 para 4.279 mm. No C3, 305 litros. Sobretudo chamativo, a versão básica do Aircross, a GL custa R$ 53.900, a intermediária GLX, R$ 56.400 e a Exclusive, R$ 61.900. Esta, completa como a que andamos, com pintura metálica, R$ 69.810. Todos têm motor 1,6-litro flex.
Uma boa escolha em busca da aventura e da admiração.
BS
Pelo que já li, esse motor já consome um bocado no C4, e mais ainda no Aircross. Mesmo que o valor do abastecimento não esteja entre as preocupações dos candidatos a proprietário, as visitas frequentas ao posto certamente serão um pé no saco. Ter que abrir a mala em dois tempos também é dose...primeiro, mover o estepe, depois abrir a tampa, depois fechar a tampa e recolocar o estepe no lugar, que demanda uma forcinha, segundo avaliação do BCWS. Me assusta o preço desses carros pseudo off road, que só entregam de benefício uma maior altura em relação ao piso, útil para quem mora em áreas sujeitas a alagamentos. Pode até ser um bom carro, mas não me entusiasma.
ResponderExcluirNão esqueçamos que este carro não é bem um projeto local, mas uma adaptação do C3 Picasso, que existe há alguns anos na Europa.
ResponderExcluirTivemos a coisa boa de um mostrador mais convencional e de melhor visão que o centralizado do francês, mas tivemos a perda de ergonomia com a alavanca de câmbio rente ao chão em vez de no painel, como no Xsara Picasso. E quando falamos de minivans, uma alavanca lá embaixo é pior ainda de se manusear.
Seria interessante saber o porquê de terem regredido a assistência de direção de elétrica para hidráulica. Será mesmo que os fornecedores são incapazes de produzir direções elétricas capazes de lidar com pneus 205/60R-16 ou aqui é pura e simplesmente vagabundagem e comodismo da engenharia brasileira (assim como foi vagabunda e comodista ao recauchutar o 206 e chamá-lo de 207)?
Fica também a dúvida sobre se não haveria como montar o 2.0 16v flex no Aircross, o que permitiria alongar o diferencial e assim, cortar um pouco de consumo em rodovias. Não que o 2.0 16v da PSA seja um primor de economia de combustível, mas aqui podemos jogar na situação de um motor ser menos forçado para uma determinada situação e nessa chegar a ser mais econômico que um menor que estiver berrando violentamente.
Boa a iniciativa do para-brisa acústico. Nesse ponto, a PSA é mais capaz de manter inovações do que a Fiat, que discretamente tirou de linha os vidros laterais laminados que ostentava orgulhosamente nos primeiros Ideas.
Sobre boa estabilidade para altura acima de 1,60 m, também não me surpreenderia. Já dirigi um Xsara Picasso e ele me pareceu muito mais à mão que muito sedã mais baixo e de suspensão mais dura que ele.
Porém, passou da hora de aposentarem esse raio desse estepe pendurado na tampa. Fica parecendo que olhamos para aqueles caras extremamente musculosos que posam de machão na academia, mas na realidade são macho-cado. O Toyota Bandeirante é muito mais macho que um Aircross, inclusive no visual, e sempre teve o estepe longe da vista alheia. Fora isso, torna o veículo mais ofensivo em caso de colisões envolvendo a traseira e acrescenta comprimento externo desnecessário e rouba um pouco de visibilidade. Dos racionais 4,08 m do C3 Picasso para praticamente o mesmo comprimento de um Xsara Picasso sem que se tenha o espaço da minivan mais antiga é pedir para que achemos que há algo que estamos perdendo na jogada. E se acrescentarmos o péssimo diâmetro de giro de 11,2 m, vai ficar parecendo ainda maior do que realmente é (e se alguém tinha um Omega A, ficará sentindo ainda mais saudades dos 10,1 m no quesito, mesmo sendo carro bem maior).
Bob, o carrinho é bonito mesmo, e o volante é um mimo com a parte em metal achatado.
ResponderExcluirPara complementar sua excelente avaliação:
http://meuamigodelata.blogspot.com/2010/10/aircross-e-ferramenta-do-prazer.html
Escrevi algo a respeito também na época do lançamento, quando pude travar um breve contato com o carro.
Eu gostaria desse na versão civil, sem adereços e com o motor dois litros pois a suspensão garante...caixa automática, com o 1600, vai simplesmente matar o carro.
GM
Perai, criacao brasileira? Isso ai nao eh o Citroen C3 Picasso?
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirTirando o efeito "lombadeiro", eu preferiria o C3 atual.
ResponderExcluirOlha esse azul Bob:
http://www.km77.com/fotos/bbtcontent/clipping/KM7KPH20091111_0023/3.jpg
Dá pra trocar pelo branco?
André Andrews
ResponderExcluirBelo!
Dirijo regularmente um Ecosport e um Pajero TR-4, e cá entre nós: este negócio de estepe pendurado na porta traseira pode até ajudar a "fantasiar" os bichinos de off-road, mas é um pooooooooooorre: tem-se que tomar um cuidado danado na hora de estacionar, isto sem falar que às vezes, justamente por aqueles centímetros extras de cumprimento além do pára-choque, o carro deixa de caber em uma vaga.
ResponderExcluirMr.Car
"Seu desenho é mesmo notável, com destaque para as barras de teto que começam nas colunas dianteiras..."
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk, belo desenho, uma caixa de fósforo contra o vento, e os 113 cv, que magavilha
Adalberto,
ResponderExcluirComo eu disse, o Aircross foi baseado no C3 Picasso, mas não é o mesmo. Segundo a Citroën, são mais de 1.000 itens exclusivos, inclusive o estepe externo, providência que, como se sabe, requer mecanismo próprio e alterações estruturais na traseira. O projeto tem 80% de nacionalização, diz a fábrica.
gostei das rodas
ResponderExcluirGuiei esse carro enquanto ele esteve com o Bob e gostei.
ResponderExcluirSó não gostei da TV de GPS que não some afundando no painel. Aquela coisa fixada ali me perturba, pois não uso e não gosto de GPS.
também não gostei dos pneus Scorpio, que são para duplo propósito. Os achei escorregadios na chuva.
Bob, dá pra trocá-los e colocar outro com mesma medida, mas bom pra asfalto? Existe com essa medida?
O motor dá conta do recado. Anda bem.
Talvez, com o tempo, achem alguma utilidade prática pra esse carro.
Pelo preço do Aircross, prefiro comprar um C4 hatch. Ou então "mudar de fábrica" e comprar um Focus hatch. Essa onda aventureira não me agrada nem um pouco...
ResponderExcluirArnaldo,
ResponderExcluirO C3 Picasso "normal" seria o ideal. Esse GPS (e um dos vidros dianteiroas) não dura 5 minutos de carro estacionado em via pública...
Arnaldo,
ResponderExcluirEsse medida é bem comum, existe para asfalto sim, por exemplo, o Pirelli P6.
A versão civil ja está em testes por ai. Logo log ochega com o nome de Airdream.
ResponderExcluirRoad Runner, o Focus hatch é meu ponto de partida para comparação de preços de carro. Não achei barato esse Aircross, mas acho que ainda ta melhor que o Ford Ecojipe por 60 chinelos.
Não dá para comparar Aircross e Ecosport....o Ford está muitos pontos abaixo em todos os quesitos.
ResponderExcluirGM
A partir de 54000 pilas numa tranqueira pesada (e provavelmente beberrona) dessas?
ResponderExcluirLançassem a versão civil de uma vez.
Como proprietário de um Exclusive digo que o carro é muito bom, confortável, espaçoso e realmente chama muito a atenção. Quem procura um carro deste tipo não compraria um C4, Focus,...completamente diferentes.
ResponderExcluirConsumo no primeiro tanque ficou em 8,5km/l, no segundo acho que será menor pois o trânsito está péssimo, muito trancado. Este negócio de estepe pesado é coisa de quem não tem o que falar, eu não achei.
Sobre o motor com certeza deveria ter o 2.0 mas o 1.6 dá conta do recado normalmente.
Finesse.
ResponderExcluirSim na cabeça de quem entende de carro. Não na cabeça de quem questiona um "niu" fiesta por 50 mil e paga 60 no old fiesta versão ecojipe.
O Aircross é bem melhor sim, só que entra no balaio dos pseudo-off roads. Concorrentes em preço, potência e proposta. Pelo menos 3 P que norteiam os comparativos do BCWS. Porte não posso dizer pois ainda não vi o Aircross e ele parece ser maior que o ecojipe.
Estabilidade era o forte da Citröen, bem como linhas arrojadas e aerodinâmicas. É, essa marca perdeu a identidade, Airdream? Aircross? Nem inventar nome de carro em francês eles conseguem mais. E aquele câmbio AT que a Citröen vende como "tecnologia Porsche"? Ridículo.
ResponderExcluirO EcoSport é um Fiesta de Rally, dá pra dar lenha numa boa. Utilitário esporte ruim de curva, frenagem, são os de chassis, o resto dá conta do recado pra quem sabe guiar, e ainda passa lotado nas lombadas.
ResponderExcluirPuts que carro feio.
ResponderExcluirEsse aircross é uma ofensa ao bom design e a tudo o que a Citroën já fez pelo mundo.
Olha, com tantas opcoes interessantes pelo mesmo preco, me admira ainda alguem comprar esses adventures. So pra chamar a atencao mesmo.
ResponderExcluirBob
Obrigado pela explicacao, e entendi a sua colocacao.
Chuta que é macumba !!!
ResponderExcluirCruz credo pessoal, o Brasil deveria é abolir estes conceitos de penduricalhos pseudo "Off road" com esses preço que cobram pelo regressão mecânica e dinâmica. Vi em shopping próximo aqui de casa, e até meu filho de 4 anos falou: Que carro feio pai !
Deus, tenha piedade de nós Brasileiros !
Como tem invejoso. Todos acham ele lindo, mas alguns "entendidos"...
ResponderExcluirMais um carro "tenis de adolescente" nas ruas... se isso aí e´o que os designers brasileiros podem fazer, como diria o Alborghetti, cadeia neles!!!! Sorry, mas o C3 Picasso é um carro bonito, não merecia que fizessem "isso" aí nele.
ResponderExcluirAnônimo 24/11 11:08
ResponderExcluirPorsche é sempre um bom aval de excelência e no caso a tecnologia da marca alemã está na criação da troca manual das caixas automáticas, a que deu nome tiptronic.
Marcelo Augusto
ResponderExcluirCertíssimo!