google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 HORST LEITNER: MOTOS, BICICLETAS E CARROS - AUTOentusiastas Classic (2008-2014)

HORST LEITNER: MOTOS, BICICLETAS E CARROS


É interessante ver como um assunto serve de gancho para o outro. O Marco Molazzano acabou de postar sobre motocicletas e a mesmice de certos desenhos, fruto da falta de criatividade e/ou coragem por parte dos fabricantes, que muitas vezes têm receio de "chocar" seus consumidores com algum produto inovador.

Nunca tive uma motocicleta. A minha iniciação no mundo da mecânica se deu através das bicicletas: as primeiras porcas e parafusos que apertei na vida, o primeiro contato com óleo, graxa, rolamentos, correntes de transmissão, engrenagens, manetes. Acredito que praticamente todos os entusiastas começaram desta maneira, duvido muito que algum entusiasta não saiba andar de bicicleta.

Sempre tive predileção pelas mountain bikes, por serem bicicletas capazes de rodar em qualquer tipo de terreno. E foi andando de mountain bike que conheci Horst Leitner, um engenheiro austro-americano que fez fama no mundo das motocicletas (e fora dele também).


Horst Leitner era um piloto de motocross quando ainda morava na Áustria, na década de 60, ocasião em que o esporte ainda era apenas um hobby. Em pouco tempo o motocross profissionalizou-se e Leitner foi trabalhar para a equipe oficial da Puch, o tradicional fabricante de motocicletas (e veículos) austríaco.

Ainda morando na Áustria, Leitner chegou a abrir um concessionário Puch, ao mesmo tempo em que prestava serviços de engenharia para a Mercedes-Benz e outros fabricantes. No final da década de 70 imigrou para os Estados Unidos, mantendo os bons contatatos que tinha com a Puch.

Continuou praticando o motocross e logo percebeu que a suspensão traseira das motocicletas era muito influenciada pela tensão da corrente de transmissão. Foi então que Leitner desenvolveu o Anti-Tension Kettenantrieb.


O mecanismo, apesar de simples, fazia uma grande diferença no comportamento da motocicleta ao anular a influência do torque da corrente no movimento da balança da suspensão traseira. Foi a primeira das idéias geniais de Leitner, o que lhe rendeu uma grande notoriedade na época.

Ciente do talento de Leitner, um dos herdeiros da família Puch convidou-o para fabricar motocicletas nos Estados Unidos, partindo do zero. Leitner aceitou o desafio e o colega austríaco tratou de entrar em contato com fabricantes patrícios, como a KTM e a Rotax.

O palavrão Anti-Tension Kettenantrieb foi abreviado e assim surgia a ATK Motorcycles:


A ATK revolucionou o mercado ao introduzir não apenas o próprio Anti-Tension Kettenantrieb, mas também as primeiras dirt bikes com motores de 4 tempos e partida elétrica. Introduziu também as primeiras motard, a injeção eletrônica (no motocross) e a suspensão traseira linkless, que hoje é uma das marcas registradas da KTM. Hoje a ATK é o único fabricante norte-americano de dirt bikes.

E onde é que entram as bicicletas nessa história? Pois bem, logo que comecei a andar de mountain bike, no final dos anos 80, todas as bicicletas eram rígidas e obedeciam a um método de construção tradicional em aço cromo-molibdênio, tendo como base o projeto original de Tom Ritchey. Uma mountain bike era praticamente uma bicicleta de estrada reforçada, equipada com uma transmissão de bicicletas de ciclo-turismo.

Foi em 1989 que um ex-mecânico da equipe de motocross da Honda chamado Paul Turner desenvolveu a primeira suspensão (dianteira) para mountain bikes. Era o Rock Shox RS1, um garfo telescópico que funcionava com ar-comprimido e tinha controle hidráulico de compressão e retorno, um verdadeiro objeto de desejo para qualquer mountain biker na época.


Fora o conceito de suspensão em uma bicicleta, não havia nada de novo. O garfo era basicamente uma miniatura simplificada dos garfos Showa utilizados nas Honda CR dos anos 80 e apresentava uma infinidade de problemas: falta de rigidez, selos de vedação problemáticos e alteração na geometria da bicicleta. Como costuma dizer o amigo André Dantas, em engenharia não existe "ganha-ganha", mas sim "ganha-perde".

Na mesma época, Horst Leitner vendeu a ATK para um grupo de investidores e criou a AMP Research, uma empresa americana que tinha como objetivo criar mecanismos simples e funcionais para a indústria automobilística.

Ciente da complexidade e das deficiências do Rock Shox de Paul Turner, o criativo Leitner surpreendeu o mundo do ciclismo com sua mais nova criação: o garfo AMP F1:


Novamente, uma invenção relativamente simples, mas revolucionária: um garfo rígido articulado por um paralelogramo, utilizando uma pequena mola de aço como elemento elástico, com compressão e retorno ajustáveis através de um pequeno amortecedor hidráulico. Ao contrário do garfo telescópico, a interferência na geometria da direção da bicicleta era mínima. E o peso do garfo AMP era muito menor, sobretudo em suas evoluções F2 (em alumínio) e F3 (em fibra de carbono)
.

Apesar de revolucionário, o garfo AMP não se tornou um objeto de desejo dos ciclistas. Foi um produto muito à frente de seu tempo, que realmente "barbarizou" o mercado com seu mecanismo inovador. Mas Leitner não se deu por vencido e resolveu inovar mais uma vez.

Ainda com a cabeça focada em suspensões para bicicletas, Leitner criou um sistema de suspensão traseira cujo funcionamento era muito semelhante ao Anti-Tension Kettenantrieb das motocicletas: em mais uma lição de simplicidade, ele adicionou um simples pivô na balança da suspensão traseira, logo à frente e ligeiramente abaixo do eixo traseiro. Estava criado o Horst Link (na figura abaixo, o número 4):

O Horst Link permite que o eixo traseiro gire para frente ao ser puxado pela corrente, atenuando significativamente o efeito de tensão na corrente e consequentemente eliminando os efeitos da cadência do ciclista no movimento da suspensão traseira.

Este sistema sim caiu nas graças do público e hoje é utilizado por 90% das bicicletas equipadas com suspensão traseira. O sucesso foi tão grande que muitos fabricantes começaram a copiar o desenho descaradamente. Sem condições financeiras de brigar com todos os fabricantes, Leitner vendeu a patente à Specialized, que hoje cobra royalties de todos os sistemas baseados no Horst Link.

A engenhosidade das bicicletas de Leitner era tão grande que a Mercedes Benz resolveu contratar a AMP Research para fabricar bicicletas com a sua grife. Durante muitos anos as bicicletas Mercedes Benz foram sinônimo do que havia de melhor, superior às bicicletas BMW (Pro-Flex/K2) e Porsche (Votec).


Leitner já não produz mais bicicletas, mas é responsável pela criação de diversas engenhocas para a GM, Ford, Chrysler, Toyota, Nissan, Mazda, Mitsubishi, Subaru e Harley Davidson.

De estribos retráteis para SUVs a comandos de embreagem mais leves para Harleys, Horst Leitner continua a trabalhar tendo como inspiração a famosa frase de Albert Einstein: "Tudo deveria se tornar o mais simples possível, mas não simplificado."

Me arrependo amargamente de ter vendido meu garfo AMP: apesar de não comercializar mais seus garfos e bicicletas, o próprio Horst em pessoa faz questão de suprir seus antigos clientes com peças de reposição, ao contrário da Rock Shox, que mudou de mãos e simplesmente ignora velhos mountain bikers como eu.

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Sites que valem a visita:

ATK Motorcycles

KTM Motorcycles

AMP Research

7 comentários :

  1. Ótimo post, sou autoentusiasta mas também gosto de bicicletas, também as moutain bikes estão entre as minhas preferidas pela sua versatilidade, os enduros de regularidade são uma diversão em tanto para quem gosta de pedalar sem tanto compromisso com o desempenho máximo.

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  2. Muito bem lembrado. O sistema linkless da KTM resume bem essa filosofia de Einstein, é simples, mas não simplificado, é muito menos complexo, sem links para engripar e menos parafusos para afrouxar. Sem falar que peça que não entra é peça que não quebra, manutenção simplificada, etc

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  3. Que belo post. Tanto pela escrita, tanto pelo teor.

    É por artigos assim que a decisão de ontem do STF (desobrigação de diploma para exercício do jornalismo) ganha valor. Jornalismo é para quem entende, não apenas para quem se forma.

    abraços

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  4. West

    A KTM já tem pronto um sistema de suspensão traseira com links, para abocanhar uma fatia maior do mercado de MX nos EUA.

    Realmente o sistema é genial pela simplicidade, mas tem suas deficiências também.

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  5. Mark

    Você é suspeito pra falar, já somos amigos de longa data.

    :)

    Abraços!

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  6. Muito interessante, não conhecia esse sistema. Ótima matéria.

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  7. cara eu tive uma AMP verde com nome MONGOOSE, pois vinha nas iboc teeam, top de linha da mongoose da época. só fico triste por não ter nenhuma foto com a lendária AMP.

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